Mostra Cinema de Garagem 2014

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O audiovisual brasileiro vem passando por um processo de grandes transformações, impulsionado pelas tecnologias digitais, que possibilitaram a produção de obras baratas com grande apuro técnico, e de novos modos de difusão, através da formação de redes pela internet, espalhadas por todo o país. Esses processos possibilitaram o surgimento de uma nova geração de realizadores no audiovisual brasileiro, pautados por uma outra lógica de produção e de circulação das obras, afastando-se dos modelos mais tradicionais de captação de recursos e de distribuição comercial. As obras possuem formatos híbridos, influenciadas não apenas pelo cinema, em uma linha tênue, indiscernível, entre ficção e documentário, mas também influenciada por outros processos artísticos, como as artes visuais, a dança, a performance, o teatro, entre outras. O hibridismo é uma marca desses trabalhos, não apenas nas bitolas (super8, 16mm, vídeo, fullHD, 35mm) mas especialmente nas estéticas e nos modos de produção.

Assim, nós (os curadores Marcelo Ikeda e Dellani Lima) viemos, ao longo dos últimos anos, refletindo sobre essas fronteiras, como realizadores, pesquisadores, críticos e curadores. Ententemos que esses aspectos são complementares como um gesto para propor uma nova forma de discussão do audiovisual brasileiro contemporâneo. Em 2011, na Mostra de Tiradentes, publicamos o livro “CINEMA DE GARAGEM: um inventário afetivo sobre o jovem cinema brasileiro do século XXI”, que provavelmente é a primeira publicação no Brasil a pensar sobre as características dessa geração. Em 2012, organizamos a Mostra CINEMA DE GARAGEM, na Caixa Cultural/RJ, com uma retrospectiva dessas obras, cobrindo 25 longas e 25 curtas produzidos neste século nos últimos 10 anos, acrescido de um livro (que pode ser baixado em http://www.cinemadegaragem.com/catalogo.html)  e de um conjunto de mesas de debate.

Nessa nova edição da Mostra CINEMA DE GARAGEM 2014, que será realizada em Fortaleza (Cinema do Dragão, entre 13 e 17 de julho) e no Rio de Janeiro (Centro Cultural da Justiça Federal (CCJF) e Museu de Arte do Rio (MAR), entre 1º e 10 de agosto), pretendemos atualizar essa agenda, exibindo 18 longas-metragens brasileiros contemporâneos (e 1 curta cearense), além de sessões comentadas, debates, oficinas e lançamento de livro.

CURADORES

A Mostra é idealizada pelos curadores Marcelo Ikeda e Dellani Lima, baseada no livro homônimo publicado em 2011, e pela mostra-retrospectiva realizada na Caixa Cultural/RJ em 2012.

Marcelo Ikeda

– Professor do Curso de Cinema da Universidade Federal do Ceará (UFC). Mestre em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

– Trabalhou na Agência Nacional do Cinema (ANCINE) entre 2002 e 2010.

– Pesquisa o cinema contemporâneo brasileiro, com diversos artigos e participação em congressos acadêmicos sobre o tema (http://lattes.cnpq.br/5499305914177233).

– Realizador de diversos curtas-metragens como O Posto, É Hoje, Eu te Amo, Carta de um jovem suicida, exibido em festivais nacionais e internacionais. Atualmente, sua pesquisa fílmica envolve a produção de videocartas e videodiários, disponíveis em www.marceloikeda.com.

– Crítico de Cinema, escrevendo periodicamente especialmente na internet, em sites

como o Claquete, Curta o Curta, Via Política, Plano a Plano, entre outros. Tem diversos textos em catálogos de mostras e festivais de cinema. Mantém o blog www.cinecasulofilia.blogspot.com desde 2004.

– Curador da Mostra do Filme Livre (CCBB/RJ), desde 2003.

– Coordenador Geral do CINE CAOLHO, cineclube com curtas e filmes cearenses,

realizado na Caixa Cultural/CE em 2013.

– Participou do júri de diversas mostras e festivais de cinema, como o Panorama Coisa de Cinema (Salvador, 2013), Cine Ceará (Fortaleza, 2011), Festival de Cinema de Penedo (Penedo/AL, 2012 e 2013), Fluxus 2011, Cine Cachoeira 2011 (Recôncavo Baiano), entre outros.

– Foi também membro da comissão de seleção dos editais de finalização de longametragem da ANCINE (2005), do edital da Secretaria de Cultura de Fortaleza (SECULTFOR 2010) e do Governo do Estado de Pernambuco (FUNDARPE 2013).

Dellani Lima

– Formou-se nos extintos cursos de “Dramaturgia” e “Realização em Cinema e Televisão” pelo Instituto Dragão do Mar de Arte e Indústria Audiovisual do Ceará/UECE (1996-2000).

– Realizou os longas-metragens Vertigem Branca, Sociedade dos Amigos do Crime, O Sonho Segue Sua Boca, entre outros, exibidos em importantes mostras e festivais no Brasil e no exterior..

– Atuou nos longas “Os Residentes” de Tiago Mata Machado (2010), “Linz – quando todos os acidentes acontecem” de Alexandre Veras (2012) e “Faroeste” de Aberlardo de Carvalho (ainda em processo), entre outros curtas e médias.

– Curador do Programa “Horizontes Transversais” na Mostra Vídeo do Itaú Cultural, Belo Horizonte, MG e Belém, PA, 2007. Membro da Comissão de Seleção do III DOCTV, Belo Horizonte, MG, 2006. Curador convidado da Mostra Indie, Belo Horizonte 2006-010. Júri do arte.mov 2010 e Fluxus 2011 – Festival Internacional de Cinema na Internet.

– Realizou videoclipes de importantes artistas independentes, entre os quais, Autoramas, Lê Almeida, Lucy And The Popsonics, Wallace Costa, Lulina, …

– Performer e fundador dos projetos de intervenção musical “E Disse que Era Economista” (2007), “Madame Rrose Sélavy” (2009) e “Splishjam” (2009).

RESUMO

A MOSTRA CINEMA DE GARAGEM será realizada no Cinema do Dragão – Fundação Joaquim Nabuco, entre 17 e 23 de julho de 2014. O projeto é patrocinado pelo Instituto de Arte e Cultura do Ceará (IACC) – Secretaria de Cultura do Ceará, tendo sido contemplado no Edital de ocupação de sala do Cine Dragão do Mar 2013 – Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC), que forneceu os recursos para a sua realização.

A Mostra conta com os apoios da Vila das Artes – Secretaria de Cultura de Fortaleza; Porto Iracema das Artes; e Curso de Cinema e Audiovisual – Instituto de Cultura e Arte – Universidade Federal do Ceará.

A Mostra será composta de 18 longas-metragens de diversas regiões do Brasil, quase todos inéditos em Fortaleza.

A Mostra também será complementada com debates com a presença do maior número possível de realizadores, para debater seus filmes junto ao público.

Está confirmada também a presença do crítico e pesquisador JEAN-CLAUDE BERNARDET, autor de alguns dos mais importantes livros sobre o cinema brasileiro moderno, como Brasil em tempo de cinema (1967), Cineastas e imagens do povo (1985) e Historiografia Clássica do Cinema Brasileiro (1995), entre diversos outros títulos.

Bernardet também é ator de dois filmes presentes na mostra: Amador, de Cristiano Burlan, e Pingo d´água, de Taciano Valério.

Bernardet também participará de um debate no Porto Iracema no dia 21/07.

PROGRAMAÇÃO FORTALEZA:

A Mostra será composta de 18 longas-metragens de diversas regiões do Brasil, todos inéditos no circuito comercial da cidade, em sua grande maioria com primeira exibição em Fortaleza.

Os filmes serão exibidos em três horários diários: 15:45, 17:30 e 19:30. Após todas as sessões das 19:30 haverá um debate com a presença do diretor do filme exibido.

ABERTURA

Para a abertura do dia 17/07/2014 às 19:30, está confirmada a presença do diretor ANDREA TONACCI, que debaterá com o público seu último filme “JÁ VISTO JAMAIS VISTO”.

Tonacci é diretor de importantes filmes do cinema de invenção brasileiro, como  BANG BANG (selecionado para o Festival de Cannes em 1970) e BLA BLA BLA (1971), além de SERRAS DA DESORDEM (2006), eleito pela Associação de Críticos Paulistas como o mais importante filme brasileiro dos anos 2000. BANG BANG é considerado um dos ícones do chamado “cinema marginal” brasileiro.

JA VISTO JAMAIS VISTO compartilha um grande conjunto de imagens pessoais filmadas há muitos anos pelo realizador, configurando-se como objetos de memória. Insere-se na pesquisa de um cinema contemporâneo brasileiro pela forma inventiva como o realizador articula um olhar pessoal sobre as imagens de arquivo, potencializando um discurso sobre a memória afetiva e coletiva.

FILMES DA MOSTRA:

TÍTULO DO FILME DIRETORES DATA
NENHUMA FÓRMULA PARA A CONTEMPORÂNEA VISÃO DO MUNDO Luis Alberto Rocha Melo QUINTA 17/07
AMADOR Cristiano Burlan QUINTA 17/07
JÁ VISTO JAMAIS VISTO Andrea Tonacci QUINTA 17/07
FERROLHO Taciano Valério SEXTA 18/07
ONDE BORGES TUDO VÊ Taciano Valério SEXTA 18/07
PINGO D´ÁGUA Taciano Valério SEXTA 18/07
O SOL DOS MEUS OLHOS Flora Dias SÁBADO 19/07
AQUILO QUE FAZEMOS COM AS NOSSAS DESGRAÇAS Arthur Tuoto SÁBADO 19/07
BRANCO SAI PRETO FICA Adirley Queiros SÁBADO 19/07
SEMANA SANTA Leonardo Amaral e Samuel Marotta DOMINGO 20/07
BATGUANO Tavinho Teixeira DOMINGO 20/07
PINTA Jorge Alencar DOMINGO 20/07
A MULHER QUE AMOU O VENTO Ana Moravi TERÇA 22/07
SOPRO Marcos Pimentel TERÇA 22/07
LINZ Alexandre Veras TERÇA 22/07
A BALADA DO PROVISÓRIO Felipe David Rodrigues QUARTA 23/07
FEIO, EU? Helena Ignez QUARTA 23/07
PAIXÃO E VIRTUDE Ricardo Miranda QUARTA 23/07

TABELA DE PROGRAMAÇÃO:

* em amarelo estão marcados os filmes com presença de seus realizadores para a exibição.

** no dia 19/07 às 17:30 em complemento ao longa-metragem será exibido o curta cearense FILME SELVAGEM, de Pedro Diógenes (Alumbramento).

FOCO:

TACIANO VALÉRIO

A Mostra destaca a obra de TACIANO VALÉRIO, exibindo três longas-metragens realizados num período de 2 anos: ONDE BORGES TUDO VÊ, FERROLHO e PINGO D´ÁGUA, que compõem a TRILOGIA CINZA.

Natural de Campina Grande (PB), Taciano vive entre a Paraíba e Pernambuco, especialmente Caruaru, onde realizou alguns de seus trabalhos. Seus filmes apresentam um contorno humanista, com personagens absortos por conflitos interiores, envolvendo o processo de criação artística, seja através da literatura, do artesanato ou do cinema.

PINGO D´ÁGUA é o terceiro filme da Trilogia Cinza. As três obras, filmadas em preto e branco e repletas de virtuosismo e poesia, são como o percurso de um caminho em busca da ficção na realidade como primeiro impulso, e então, no ato de filmar, o encontro da realidade na ficção. É desta maneira que este último trabalho da trilogia culmina em um jogo de seres e de símbolos, onde os atores são confrontados a si mesmos, tornando-se autores da própria obra que os conduz. De estrutura entrecortada e filmado em três cidades brasileiras muito diferentes umas das outras, PINGO D´ÁGUA é um filme universal, que mostra o deslocamento no espaço como busca de uma outra identidade, e o ato de viajar, como olhar para dentro de si. Uma obra de atmosfera intrigante e envolvente, de belíssimas imagens que evocam de forma simples e real, mistérios da natureza humana como a dificuldade nos relacionamentos, o medo e a libertação pessoal.

Os filmes foram organizados pela programação em pares, através de semelhanças e diferenças entre dois filmes programados num mesmo dia, de forma a possibilitar um debate sobre estéticas e linguagem cinematográfica com o público presente

POLÍTICA

AQUILO QUE FAZEMOS COM AS NOSSAS DESGRAÇAS, de Arthur Tuoto

BRANCO SAI PRETO FICA, de Adirley Queirós

Dois filmes que pensam a política contemporânea através das imagens. O filme-ensaio de Tuoto busca uma política das imagens, todo realizado por uma única pessoa, através de imagens de arquivo capturadas pela internet, em especial um discurso de Jean-Luc Godard.

Já o filme de Adirley Queirós dá continuidade ao seu filme anterior, o premiado A CIDADE É UMA SÓ?, ao promover um retrato da periferia de Brasília (Ceilândia) através de um filme híbrido entre o documentário e a ficção, focando num cenário de resistência de um grupo de sobreviventes.

INTIMISMO

O SOL NOS MEUS OLHOS, de Flora Dias e Juruna Mallon

A MULHER QUE AMOU O VENTO, de Ana Moravi

Esses dois filmes, realizados por mulheres, baseiam-se mais num clima de sugestão, em que o silêncio e o não-dito participam mais da dramaturgia do que propriamente as palavras de um roteiro. As realizadoras desenvolvem um cinema intimista e delicado.

O Sol nos meus olhos acompanha o percurso geográfico e existencial de um homem que deixa seu lar após a perda de sua esposa.

O longa de Ana Moravi acompanha o delicado dia a dia de sua protagonista feminina e seu diálogo intangível com o vento.

AMADOR

NENHUMA FÓRMULA PARA A CONTEMPORÂNEA VISÃO DO MUNDO, de Luís Rocha Melo

AMADOR, de Cristiano Burlan

A BALADA DO PROVISÓRIO,  de Felipe David Rodrigues

Aqui, um “par” acabou se tornando um “triângulo”. Nesses três filmes, o cinema é espelho de uma aventura de ser. Os personagens são ingênuos amadores que vivem a vida em seus pequenos instantes, este é o gesto libertário desses filmes. Em comum, viver e filmar, amar e viver, são parte de uma tentativa de ser, baseada em uma errância. Loucos, livres, ingênuos, poetas, cineastas, sonhadores…

No filme de Rocha Melo, uma roteirista em crise recebe a tarefa de escrever o texto para a nova peça de um escritor polonês, contratada pelo gângster cultural Al Gazzarra. Sátira ao processo de produção cultural, o filme é um libelo bem-humorado em defesa da liberdade de criação.

Em Amador, Henrique Zanoni representa um alter ego do próprio diretor: torna-se um personagem em busca de um filme, selecionando atrizes para seu próximo filme. Procura um rosto. Mais do que uma personagem, procura alguém que ama.

Em A balada do provisório, o carioca Felipe Rodrigues promove uma bme-humorada homenagem ao cinema marginal, através das aventuras e desventuras de um típico malandro carioca chamado Provisório, que vive a vida com grande prazer pelos pequenos momentos, aplicando pequenos golpes e se envolvendo com misteriosas mulheres.

SUBVERSÃO

SEMANA SANTA, de Leonardo Amaral e Samuel Marotta

BATGUANO, de Tavinho Teixeira

PINTA, de Jorge Alencar

Três filmes ousados, inquietos, que perturbam o espectador pelo comportamento amoral de seus personagens. Três narrativas entrecortadas, fragmentadas, permeadas pelo delírio e pelo desejo.

Semana Santa mescla o documental e o documentário, tomando como ponto de partida um cortejo da Paixão de Cristo em Dores de Turvo, interior de Minas Gerais.

O irreverente Batguano aponta para um cenário pós-acocalíptico, num inesperado romance familiar entre Batman e Robin, onde o afeto se mistura à decadência desses personagens, contando com uma arrojada interpretação do ator Everaldo Pontes.

Pinta, do baiano Jorge Alencar, combina cinema, teatro, performance e dança, num conjunto de esquetes, compilando diversas cenas dos espetáculos e curta-metragens produzidos pelo Grupo Dimenti ao longo desses anos, transitando por diversas situações dramáticas e coreográficas com diferentes durações e atmosferas.  Os episódios que constituem o filme são, ao mesmo tempo, autônomos e conectados entre si por nuanças de uma erótica pornochanchesca, delírios musicais e uma intimidade caseira.

NATUREZA

LINZ, de Alexandre Veras

SOPRO, de Marcos Pimentel

Dois primeiros longas de realizadores que possuem relações de proximidade e distanciamento em relação à “nova cena”. Dois filmes envolvidos com a missão de dar corpo a uma natureza, que se torna a verdadeira protaginista desses filmes.    Dialogando com diretores como Sokurov ou Frammartino, os realizadores buscam uma estética permeada de silêncios, com uma narativa rarefeita, em que os aspectos sensoriais se sobrepõem a uma narrativa de personagens.

Linz se passa no interior do Ceará, na vila pesqueira de Tatajuba. Um homem, encarregado de efetuar uma entrega, acaba misteriosamente se incorporando à natureza e à paisagem do lugar, soterrado pela areia.

Sopro é um documentário que observa a paisagem e a vida no interior de Minas Gerais. Uma pequena vila rural no meio do nada, no interior do Brasil, onde algumas famílias vivem, há anos, isoladas, sem muito contato com o mundo exterior. O vento, a poeira, as montanhas, o silêncio, o tempo… Entre o inventário e o imaginário deste lugar, o homem e a natureza convivem harmônica e conflituosamente, na imensidão de uma paisagem que parece esgotar o olhar. Um documentário sobre a existência humana e os mistérios da vida e da morte.

SESSÕES ESPECIAIS

Além da exibição de filmes de jovens realizadores do cinema brasileiro contemporâneo, a mostra destaca três realizadores que, apesar de pertencerem a uma geração anterior, permanecem realizando filmes de invenção, tipicamente “de garagem”, comprovando que juventude não é uma questão de idade, mas de coragem. São os nossos “jovens veteranos”.

ANDREA TONACCI

Na abertura (17/07), está confirmada a presença do realizador ANDREA TONACCI, que debaterá com o público seu último filme “JA VISTO JAMAIS VISTO”.

Seu primeiro longa-metragem, Bang-bang, foi selecionado para a Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes e é considerado até hoje um marco do cinema marginal. Tonacci também é o diretor de SERRAS DA DESORDEM (2006), eleito pela Associação de Críticos Paulistas como o mais importante filme brasileiro dos anos 2000.

JA VISTO JAMAIS VISTO compartilha um grande conjunto de imagens pessoais filmadas há muitos anos pelo realizador, configurando-se como objetos de memória. “Tem muitas imagens de viagem, tem meu filho, eu filmava lugares, paisagens. O filme tem imagens de documentações do dia a dia, pequenas encenações criadas em casa com amigos, coisas que se realizavam a partir de alguma ideia, de um encontro, do que estimulasse a minha sensibilidade”. O filme se insere na pesquisa de um cinema contemporâneo brasileiro pela forma inventiva como o realizar articula um olhar pessoal sobre as imagens de arquivo, potencializando um discurso sobre a memória afetiva e coletiva.

HELENA IGNEZ

No dia de encerramento da Mostra (23/07) às 17:30, será exibido FEIO, EU?, último filme da atriz e cineasta Helena Ignez.

Helena Ignez é uma das mais importantes atrizes do cinema brasileiro. Seu trabalho como atriz no “cinema de invenção” brasileiro é tão marcante que se torna uma atriz cocriadora, em filmes como A Mulher de Todos, Sem Essa Aranha, ambos de Rogério Sganzerla.

FEIO, EU? é uma mescla entre ficção e documentário, apresentando atrizes que interpretam personagens em busca de um filme, numa espiral tipicamente metalinguística.

Sobre o filme, Marcelo Ikeda afirma ” Feio, Eu? é o mais libertário entre os três filmes realizados por Helena Ignez. Trata-se de um filme híbrido entre a ficção e o documentário, como um filme-ensaio que desvela o processo de busca de algumas atrizes e atores por moldar seus personagens. Como personagens de uma obra de Pirandello, essas atrizes vão existindo na medida em que vão criando seus personagens. E, à medida que elas descobrem esses personagens, o filme vai descobrindo o seu próprio caminho, ele vai se fazendo. É desse modo que Feio, Eu? alinha quatro buscas, numa espiral nitidamente metalinguística: personagens em busca de um filme; um filme em busca de seu próprio processo de fazer; um cinema em busca de um projeto estético; um país em busca de sua própria identidade.”

HOMENAGEM A RICARDO MIRANDA

A Mostra também prestará uma homenagem ao cineasta e montador RICARDO MIRANDA, falecido no mês de março de 2014. Miranda é montador de importantes filmes brasileiros, como A idade da Terra, de Glauber Rocha, Crônica de um industrial, de Luiz Rosemberg Filho, Anchieta, José do Brasil, de Paulo Cesar Sarraceni, entre outros.

Será exibido seu último filme, PAIXÃO E VIRTUDE (2014), INÉDITO em Fortaleza. Estará presente na sessão a viúva de Ricardo Miranda, Clarissa Ramalho, roteirista do filme.

PAIXÃO E VIRTUDE e o anterior DJALIOH (2013) formam as duas primeiras partes da inacabada trilogia “Inquietante Estranheza”, duas livres adaptações de contos do jovem Gustave Flaubert, escritos quando o autor tinha apenas 17 anos.

CURTA CEARENSE

A Mostra exibirá um único curta-metragem: FILME SELVAGEM, de Pedro Diógenes. Pedro é um dos membros do Coletivo Alumbramento, e é um dos diretores de filmes emblemáticos da nova cena cearense, como ESTRADA PARA YTHACA (2010)  e OS MONSTROS (2011).

Seu novo curta, que terá sua primeira exibição pública na Mostra, é um ensaio audiovisual que questiona o valor da política na contemporaneidade, através de um questionamento sobre os efeitos das formas de governo sobre a liberdade do indivíduo.

O curta será exibido como complemento da sessão do longa de Arthur Tuoto, AQUILO QUE FAZEMOS COM AS NOSSAS DESGRAÇAS, no sábado 19/07 às 17:30.

CONVIDADOS

Estarão presentes em Fortaleza os seguintes convidados:

Dellani Lima, curador da Mostra, ator de LINZ, ator de PINGO D´ÁGUA

Jean-Claude Bernardet, debatedor, ator de AMADOR, ator de PINGO D´ÁGUA

Luís Alberto Rocha Melo, diretor de NENHUMA FÓRMULA PARA A CONTEMPORÂNEA VISÃO DO MUNDO

Andrea Tonacci, diretor de JA VISTO JAMAIS VISTO

Cristina Amaral, montadora de JA VISTO JAMAIS VISTO

Taciano Valério, diretor de FERROLHO, ONDE BORGES TUDO VÊ e PINGO D´ÁGUA

Paulo Philippe, ator principal de FERROLHO

Ludmila Branco Pepe, assistente de direção de FERROLHO

Adirley Queirós, diretor de BRANCO SAI PRETO FICA

Tavinho Teixeira, diretor de BATGUANO

Jorge Alencar, diretor de PINTA

Alexandre Veras, diretor de LINZ

Clarissa Ramalho, roteirista de PAIXÃO E VIRTUDE

DEBATE

O “cinema de garagem” no Brasil hoje: perspectivas e desafios

Data: Segunda (21/07) às 19:30

Local: Porto Iracema das Artes

A partir deste século, o cinema brasileiro gerou uma série de obras audiovisuais baratas e inventivas, possibilitadas pelas tecnologias digitais, com facilidade para a produção, finalização e circulação dessas obras, muitas delas surgidas fora do eixo Rio-São Paulo. Quais são as principais características dessa cena? É possível afirmar que hoje há uma perspectiva de consolidação de um “cinema de garagem” no país? Quais são os principais desafios para o amadurecimento dessa cena?

Palestrantes:

JEAN-CLAUDE BERNARDET

ADIRLEY QUEIRÓS

(com mediação de Marcelo Ikeda)

JEAN-CLAUDE BERNARDET é um dos principais críticos da história do cinema brasileiro, professor da ECA/USP, autor de alguns dos mais importantes livros sobre o cinema brasileiro moderno, como Brasil em tempo de cinema (1967), Cineastas e imagens do povo (1985) e Historiografia Clássica do Cinema Brasileiro (1995), entre diversos outros títulos. Bernardet também é ator de dois títulos presentes na mostra: Amador, de Cristiano Burlan, e Pingo d´água, de Taciano Valério.

O cineasta ADIRLEY QUEIRÓS é um dos expoentes do atual cinema de garagem brasileiro. Desenvolveu toda a sua filmografia em torno da Ceilândia, no Distrito Federal, numa mescla entre ficção e documentário. Seu curta O Rap da Ceilândia recebeu o prêmio de melhor curta no Festival de Brasília. Seu primeiro longa-metragem A Cidade É Uma Só? foi o Melhor Filme na Mostra de Tiradentes em 2012. Branco Sai Preto Fica é seu segundo longa-metragem.

LANÇAMENTO DE LIVRO

No dia 17/07 às 18:30, haverá o lançamento do livro CINECASULOFILIA, do curador Marcelo Ikeda.

“CINECASULOFILIA” é uma coletânea de textos do blog homônimo, escrito por Marcelo Ikeda, reunidos em comemoração aos dez anos de sua criação. No blog, Ikeda desenvolve uma concepção muito particular da crítica de cinema, como uma relação afetiva que entrecruza cinema e vida. O livro abrange aspectos do cinema contemporâneo e do cinema contemporâneo brasileiro, com textos sobre realizadores e filmes de períodos diversos, combinando crítica cinematográfica, análise fílmica e história do cinema.

O livro é publicado pela Editora Substânsia, sediada em Fortaleza. Criada por Nathan Matos, Madjer de Souza Pontes e Talles Azigon, a Editora Substânsia foi idealizada com o intuito de publicar livros de autores contemporâneos, nos mais variados gêneros, e perspectivar novas condições de diálogo entre os criadores brasileiros das mais variadas artes; abrindo novas possibilidades no mercado editorial brasileiro. Mais detalhes em http://www.editorasubstansia.com.br

PALESTRAS NA VILA DAS ARTES

A Mostra conta com a parceria da Vila das Artes, onde serão realizadas três palestras com convidados da Mostra: Dellani Lima, Andrea Tonacci e Clarissa Ramalho.

Palestra

“Cinema de garagem”: a dimensão do mínimo no audiovisual

15 de julho

18:30 – 21:30

Dellani Lima

Sinopse:

Abordar conceitos do modo independente de produção audiovisual contemporânea, através de curtas realizados com equipamentos portáteis ou semiprofissionais. Narrativas, crônicas ou invenções a partir do que se tem e com o que se pode. O mínimo como potência do devir.

Currículo:

Dellani Lima é cineasta, diretor dos filmes Vertigem Branca, Sociedade dos Amigos do Crime, O Sonho Segue Sua Boca, entre outros, e ator de “Os Residentes”, “Linz ” e “Faroeste”, entre outros curtas e médias. Coautor da publicação “Cinema de  Garagem: um inventário afetivo sobre o jovem cinema brasileiro do  século XXI”.

Palestra

Processos de criação: o caso de Bang Bang

16 de julho

18:30 – 21:30

Andrea Tonacci

Sinopse:

BANG BANG é um dos filmes paradigmáticos do chamado “cinema marginal” brasileiro, realizado na virada dos anos sessenta para os anos setenta, e selecionado para a Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes. A palestra terá como objetivo discutir o processo de realização do filme, em que rigor e improviso se combinam para produzir uma das mais originais obras do cinema brasileiro. Haverá a exibição do filme e, em seguida, palestra com o realizador Andre Tonacci.

Palestrante:

Andrea Tonacci é cineasta, diretor de filmes como Bang Bang, Conversas no Maranhão e Serras da desordem, entre outros.

Palestra

Como escrever um roteiro de garagem?

Clarissa Ramalho

24 de julho

18:30 – 21:30

Descrição:

O roteiro de um filme-de-garagem se baseia na busca pela forma de contar histórias, seja na ficção ou no documentário. O roteiro surge enquanto parte de uma estrutura na narrativa pré-estabelecida, de uma livre adaptação, ou a partir de ensaios sobre a imagem? O que determina seu filme? Quem determina o quê?

Palestrante:

Clarissa Ramalho é roteirista, de “Paixão e virtude” e “Djalioh”, entre outros. Diretora dos curtas “Janelas” e  “Bonecas Do Quilombo”.

EQUIPE DE PRODUÇÃO

Coordenação Geral: Marcelo Ikeda

Curadoria: Marcelo Ikeda e Dellani Lima

Coordenadora de Produção: Flor Fonteles

Programação visual: Aline Paiva

Assistentes de Produção: Clara Campos e Nayara Machado

Tráfego e Controle de Cópias: Henrique Gomes

Redes sociais: Sara Síntique

SERVIÇO

EXIBIÇÃO DE FILMES:

CINEMA DO DRAGÃO – FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO

Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura

Rua Dragão do Mar, 81 – Praia de Iracema // Fortaleza – Ceará

De 17 a 23 de julho // 15:30 às 22hs

Ingressos a R$2 (inteira)

PATROCÍNIO:

Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura -Instituto de Arte e Cultura do Ceará (IACC) – Secretaria de Cultura do Ceará

APOIO CULTURAL:

Vila das Artes – Secretaria de Cultura de Fortaleza

Porto Iracema das Artes

Curso de Cinema e Audiovisual -Instituto de Cultura e Arte – Universidade Federal do Ceará

INFORMAÇÕES:

Marcelo Ikeda (Coordenador Geral / Curador): [email protected] // 8793-6036

Flor Fonteles (Coordenadora de Produção): [email protected] // 8951-7534

 

 

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